Ao ritmo atual, a igualdade de género demoraria cerca de 300 anos a ser alcançada, de acordo com o último relatório da ONU Mulheres e do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (DESA). Perante este cenário, o Chile decidiu agir e juntou-se à limitada lista de países com uma Política Externa Feminista (PEF).
Estas são as cinco chaves para compreender o PEF e a sua importância para o país e para o mundo.
1. Primeiro país sul-americano a implementar uma Política Externa Feminista
O Chile torna-se o primeiro país sul-americano a ter uma Política Externa Feminista, juntamente com a Suécia, o Canadá, a França, o Luxemburgo, a Espanha e o México. A Suécia foi a pioneira e, em 2014, adoptou esta medida com o objetivo de acrescentar a perspetiva de género como base fundamental para o cumprimento efetivo dos interesses do país.
Neste sentido, esta política reforça os princípios da democracia e da defesa dos direitos humanos e procura estabelecer o princípio da igualdade entre homens e mulheres e da não discriminação como um princípio orientador da política externa do Chile.
2. promove a participação, a inclusão, a integração e uma abordagem intersectorial.
O PEF é participativo, pois visa abrir espaços para todos os actores na sua conceção e implementação; é inclusivo, pois procura assegurar que os seus benefícios cheguem a todos, tanto na esfera política como comercial; é transversal, pois promove uma ação coordenada em todas as áreas de trabalho do Ministério dos Negócios Estrangeiros; e é interseccional, pois reconhece que a desigualdade não é apenas estrutural, mas é também moldada pela sobreposição de vários factores.
3. Revisão da estrutura e cultura institucionais
A declaração de uma Política Externa Feminista visa promover uma ação externa coordenada com uma perspetiva de género em vários espaços, fóruns e mecanismos relacionados com o avanço da igualdade de género.
Mas tem também uma dimensão interna que tem a ver com a estrutura e a cultura institucionais. A este respeito, será efectuada uma revisão dos regulamentos, processos e protocolos, entre outros instrumentos organizacionais, a fim de acelerar a implementação das mudanças necessárias para reduzir as disparidades de género. Nesta linha, o objetivo é aumentar a presença de mulheres nas embaixadas: em 2021 havia 14 mulheres responsáveis pelas embaixadas e missões chilenas no estrangeiro, e em fevereiro de 2023 já eram 27.
A fim de dar continuidade e consolidar uma política que visa uma maior participação das mulheres nos espaços de decisão, será proposta a criação de um Comité Consultivo de Peritos para apresentar às autoridades uma estratégia para fazer avançar a paridade até 2030.
4. O Chile é pioneiro numa abordagem inclusiva da política de comércio externo
Fomos o primeiro país do mundo a incorporar capítulos de género e comércio em vários dos acordos de livre comércio que o Chile assinou com outros países, procurando abrir oportunidades para ampliar a participação das mulheres no comércio internacional. Assim, o PEF reforçará esta área, permitindo uma maior disponibilidade de dados com uma perspetiva de género, a possibilidade de partilhar experiências no desenvolvimento de políticas de corresponsabilidade e outras que contribuam para a igualdade de género, o diálogo em organizações internacionais, entre outros.
Em 2016, o Chile incluiu o primeiro capítulo sobre estas matérias num acordo comercial bilateral ao assinar este instrumento com o Uruguai, seguindo-se os assinados com o Canadá, a Argentina, o Brasil, o Equador, o Paraguai e, recentemente, com a União Europeia.
O Chile - juntamente com a Nova Zelândia e o Canadá - foi um dos primeiros a subscrever um instrumento internacional dedicado às questões de género e comércio, denominado Acordo Global sobre Género e Comércio.
5. Mecanismos de controlo e avaliação
Um dos pontos mais importantes é a existência de mecanismos de acompanhamento e avaliação, para que os objectivos e metas estabelecidos possam ser medidos ao longo do tempo e, assim, eventualmente melhorados. A experiência de outros países mostra que não existem mecanismos de acompanhamento e que é particularmente difícil garantir que a política não se dilua com o tempo.
Por esta razão, a fim de ter objectivos, prazos, indicadores e responsabilidades claras, será criada a Divisão de Assuntos de Género para articular os esforços que já existiam no Ministério dos Negócios Estrangeiros e para os consolidar e reforçar, de modo a que não dependam de mudanças de autoridade. Está também disponível uma página web com toda a informação, cápsulas explicativas e mecanismos de acompanhamento articulados.